O filme Vingadores: Guerra do Infinito é o culminar dos planos que começaram em 2008, quando o filme Homem de Ferro com Robert Downey Jr chegou aos cinema. Na altura, estava longe de imaginar que esta épica narrativa dos comics ganharia vida no cinema, um verdadeiro sonho de criança. Estava mais preocupado com os passos em falso que o género dava no grande ecrã, com medo de me queimar com as minhas próprias expectativas. Os avanços na tecnologia, um plano a longo prazo da Marvel Studios e uma nova atitude de Hollywood perante os filmes de super-heróis permitiram que um épico como este ganhasse forma, apresentando-se como um inesperado e triunfante filme.
É muito difícil falar de Vingadores: Guerra do Infinito sem spoilers, mas isso é imperativo. Não quero estragar a surpresa a quem ainda não o viu, mesmo que seja difícil não falar de uma cena ou outra em particular. O filme é um cosmos de emoções e entusiasmo, que tenta através de cada cena estabelecer uma narrativa global coesa para que qualquer pessoa possa sentir o efeito de Thanos. Alguns podem conhecê-lo desde 1973, a sua primeira aparição, mas outros, como eu, conhecem-no desde 1991, desde o mítico comic “The Infinity Gauntlet”, que está agora na base deste filme.
O maior feito da Marvel Studios, para este filme que esteve dez anos em preparação, foi também ter em conta todos aqueles que nunca viram Thanos antes, todos aqueles que entraram para o mundo da Marvel através dos filmes, todos os que simplesmente vão ver o filme com a curiosidade de assistir a um incrível blockbuster. Anthony e Joe Russo, a dupla de irmãos que realizou o filme e engendrou a maior parte dos planos que unem os filmes da Marvel como uma espécie de teia que se vai expandindo, pensou nisso e preparou-se. Este é um filme de acção, com imensas explosões, acrobacias, lutas, piadas à Marvel Studios que incluem referências a Starbucks, e uma quantidade incrível de super-heróis gerida com uma precisão metódica e inacreditável. É um filme para todos, um filme bem ao estilo da Marvel Studios, mas ao mesmo tempo é um filme que realiza os sonhos de alguns.
Vingadores: Guerra do Infinito é um filme para quem adora os comics, para quem conhece o material, para quem vai passar o tempo a encontrar similaridades, diferenças, ajustes, mas acima de tudo para quem se vai render e respeitar a junção dos dois universos. É na forma como os irmãos Russo pegam no material original e o adaptam para o Universo Cinemático da Marvel que Vingadores: Guerra do Infinito conquista. Este é o mais ambicioso filme da Marvel Studios e resulta tão bem porque brinca com as tuas expectativas e conhecimento do universo Marvel. Os irmãos Russo sabem que os fãs conhecem a história e sabem que a precisam respeitar, mas demonstraram uma saudável ousadia que vai surpreender os fãs.
“Já esperavas um épico repleto de cenas de acção e algumas piadas, mas a Marvel Studios subiu a fasquia”.
Incluir no mesmo filme os Vingadores, Homem-Aranha, Capitão América, Black Panther, Doutor Estranho, Thor, Hulk, Guardiões da Galáxia e o Homem de Ferro, sem esquecer todos os outros, é por si só um feito impensável que nenhum fã dos comics se atreveria a imaginar até há bem pouco tempo. No entanto, Vingadores: Guerra do Infinito vai mais longe ao conferir o protagonismo a Thanos. O Titã Louco tem um plano e está certo do que pretende fazer, mas sem colocar em causa o seu tom divertido e fácil de assimilar, a Marvel Studios arriscou alguma profundidade ao personagem e não o torna no vazio ou demente antagonista que poderia arruinar o filme. Thanos é a peça principal de todo o filme, até arriscaria a dizer que é o verdadeiro protagonista. É assim que faz sentido.
Gerir tantos heróis num filme de 2 horas é uma tarefa gigantesca e talvez o ponto mais sensível para os fãs de um super-herói específico, mas acredito que os irmão Russo conseguiram concretizar em pleno o melhor resultado para esta adaptação. Ao invés de se focarem no tempo de ecrã de cada herói para que nenhum fã em particular ficasse triste por o seu herói surgir menos tempo, os Russo Brothers focaram-se na narrativa, em Thanos, nas Pedras do Infinito e em parte, é por isso que Vingadores: Guerra do Infinito resulta tão bem, é por isso que se torna no maior épico da Marvel Studios. A narrativa global é mais importante do que qualquer herói, a sensação de urgência e o ritmo impiedoso de Thanos fazem com que os acontecimentos sejam mais importantes do que qualquer individualidade, excepto Thanos.
Saltas constantemente de local para local, de um inesperado grupo de personagens para outro, sempre com uma boa dinâmica e ritmo, sem perder o fio à meada. Isso é altamente importante para que tudo resulte. Os saltos entre as várias frentes no confronto a Thanos estão tão bem encadeados que não sentirás qualquer confusão. Pelo contrário, tudo será tão natural que nem pensarás nisso. O que por si só já é um mérito incrível.
Combinado com esse sensível equilíbrio na gestão dos super-heróis, o que mais me surpreendeu é o quão bem a Marvel Studios consegue gerir o tempo de filme. É preciso mostrar Thanos, as suas ligações a algumas personagens já conhecidas, as consequências dos seus actos, o poder de cada uma das pedras, as suas implicações para o futuro da Marvel Studios, o desafio de transportar super-heróis que actuam na Terra para uma luta galáctica e preservar a essência de cada uma destas personagens num evento de escala espacial. A Marvel Studios conseguiu-o e sempre mantendo o seu tom, sem entrar por tonalidades mais sombrias que deixariam Deadpool a perguntar se “tens a certeza que não pertences ao universo DC?”
Gerir o tempo de ecrã para uma quantidade tão grande de heróis em 2 horas de filme foi uma tarefa incrível, mas os irmãos Russo conseguiram.
Dizer que Vingadores: Guerra do Infinito é o mais ambicioso e mais bem conseguido filme da Marvel Studios não é apenas dizer que a tecnologia já te permite concretizar no grande ecrã efeitos especiais dignos dos comics. Também não é dizer que os actores de Hollywood já respeitam suficientemente o género para perceber que existem diversas camadas nestes personagens. É dizer que os irmãos Russo souberam gerir de forma surpreendente toda a narrativa em torno de Thanos e que arriscaram. Este é um filme que ostenta o espírito da Marvel Studios, onde os combates de larga escala e os momentos épicos que te deixam a vibrar na cadeira, mas também é um filme que soube envergar a responsabilidade de traçar uma linha no universo cinemático da Marvel. Até parece fácil depois de o ver, mas imagino que tenha sido tudo menos isso.
É difícil falar de Vingadores: Guerra do Infinito sem abordar cenas específicas que exploram os personagens. Mesmo os momentos de humor, quanto mais as cenas espectaculares de acção que te vão surpreender. No entanto, posso dizer-te que Vingadores: Guerra do Infinito enverga uma incrível ambição e tenta ir além do previsível. Todo o secretismo em torno do filme resultou e existem momentos que me surpreenderam, que me emocionaram e outros que me divertiram. Acima de tudo, saí da sala sem palavras, boquiaberto e ainda a tentar digerir o que tinha visto. É um filme de super-heróis ousado e com ideias que jamais imaginarias ver num filme do género, mas um dos mais épicos que algumas vez terás a oportunidade de assistir.