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Far Cry 5 – Visitámos Montana e enfrentamos o culto

O ano de 2017 foi um ano muito interessante para a Ubisoft, um ano com altos e baixos em que posturas similares encontraram resultados diferentes. A aposta em novas propriedades intelectuais permitiu sucessos como Mario + Rabbids: Kingdom Battle, mas também permitiu For Honor, um jogo com tudo para dar certo e bases sólidas para uma série. Infelizmente tombou perante a incapacidade do estúdio em corrigir e melhorar o jogo, afastando a comunidade (problema que vimos em 2016 com The Division). Este ano também tivemos Ghost Recon Wildlands, um ambicioso jogo que se tornou numa espécie de símbolo para todas as críticas atiradas à Ubisoft: um jogo divertido mas demasiado repetitivo com um enorme mapa mundo repleto de tarefas opcionais apenas para fazer número. Pelo outro lado, tivemos Assassin’s Creed Origins que reconciliou a série com os fãs, sendo considerado um dos melhores. Agora é a vez de Far Cry 5 fazer o mesmo pela sua série.

Para Far Cry 5, a Ubisoft volta à actualidade e aposta em todas as bases da série: locais capazes de espantar, vilões intensos e uma liberdade repleta de caos e destruição. Numa sessão de gameplay, onde tive a oportunidade de jogar 2 horas de Far Cry 5, conheci um jogo que parece pronto para cumprir com essa tradição, mas o mais interessante foi descobrir de que formas incorpora já o feedback obtido pelas equipas da Ubisoft nos diversos jogos lançados em 2017. É um dos vários benefícios de trabalhar numa das maiores editoras da actualidade, a partilha de mecânicas, ferramentas, tecnologia e metodologias de trabalho. Olhar para Far Cry 5 depois de jogar Ghost Recon Wildlands e Assassin’s Creed Origins é ver um jogo que partilha imenso com o primeiro, mas tenta alcançar a mesma sensação do segundo. Especialmente no que diz respeito à estrutura e aproveitamento dos mundos abertos.

A ideia de te transportar para um remoto local nos Estados Unidos da América, imenso e diversificado o suficiente para te apresentar diferentes oportunidades de gameplay, é apelativo e é quase impossível não sentir que a Ubisoft Montreal está a tentar capturar este momento específico da nossa actualidade política e social. Um culto que domina através da força uma região remota, temas sobre supremacia racial, caos político e a sensação de sociedade sem justiça certamente se sentem oportunos. No que diz respeito ao jogo em si, é uma narrativa tão válida quanto outra para divertir quem não quer saber de nada disso, sem querer misturar jogos com política. Permite um vilão louco e forte, o que para muitos será o principal.

“Far Cry 5 posiciona-se como um meio-termo entre Assassin’s Creed Origins e Ghost Recon Wildlands, promovendo a exploração e repleto de acontecimentos esporádicos à espera de serem descobertos.”

Esta demo permitiu explorar uma zona imensa do mapa e interagir com duas figuras principais da resistência em Hope County, Montana, nos EUA. É aqui que o culto Eden’s Gate espalha o seu terror. De várias formas, Far Cry 5 parece uma sequela para Wildlands, um jogo em mundo aberto onde lutas para libertar zonas civis do controlo de um qualquer tirano pertencente ao culto. Cada espaço tem o seu líder e existem membros da resistência que te vão ajudar. Terás de cumprir missões que te permitem diminuir o controlo do culto na zona, até à libertação total. Far Cry 5 mantém-se muito fiel ao que viste nos mais recentes jogos de acção da Ubisoft, mas implementa diversas mudanças com base no feedback dos jogadores aos seus lançamentos deste ano. Isto significa que o que podes fazer para reduzir o controlo do culto sobre a zona é muito mais liberal do que cumprir estritamente missões de história ou libertar bases. És convidado a explorar Hope County, para encontrar situações esporádicas, ajudar as pessoas e até os mais pequenos actos podem dar-te pontos de libertação. A Ubisoft procurou claramente romper com a fórmula repetitiva que torna alguns jogos em tarefas e não diversão.

Desde o primeiro instante que Far Cry 5 se sente como a fórmula Far Cry moldada para dar maior liberdade ao jogador. Para permitir que decida como quer jogar e quais as actividades que quer cumprir para chegar ao objectivo. Existem recompensas em tudo o que fazes e tu escolhes o que mais gosto te dá fazer. Logo na primeira missão que joguei, recrutei um membro da resistência e fui de carro com ele até ao objectivo. Pelo caminho, atropelei os membros do culto que estavam a castigar cidadãos e ganhei pontos de libertação de zona apenas por isso. Ao invés de seguir a estrada principal, fui pelo monte, atropelando mais membros do culto, para atacar o local pelas traseiras. Troquei a metralhadora pelo arco e flecha, despachei os inimigos um a um de forma silenciosa. O mais recompensador foi verificar que o jogo é coeso na abordagem furtiva. Se não fazes barulho, o inimigo não sabe onde estás e procura-te se algo de errado acontecer na sua linha de visão.

Jogar com o arco foi o mais divertido em Far Cry 5, especialmente com as flechas explosivas que fazem os inimigos explodir no contacto, ou as flechas incendiárias que queimam tudo à sua volta. Se fores apanhado pelo fogo, aplicas um curativo rápido e está pronto para seguir. Caso contrário, terás de te esconder até a vida recuperar. Numa outra missão, tive de entrar num rancho e roubar um avião. Depois de perder duas vezes a levar tiros não sei de onde, decidi contornar o local, seguir pelas traseiras e roubar o avião sem ser visto. Gostei que Far Cry 5 me desse essa oportunidade de abordar de formas diferentes as missões. É algo que poderá ser considerado banal nos dias de hoje, mas é extremamente vital para a saúde do jogo e consequentemente para a tua diversão. Especialmente porque podes usar vários veículos, como helicópteros, que te ajudam a enfrentar as missões com variadas abordagens e potenciais riscos.

“Jogar acompanhado foi muito mais divertido, mas existem momentos em que o segundo jogador nada faz, o que precisa ser corrigido.”

Se jogaste um dos mais recentes jogos na série Far Cry ou Wildlands, sabes como funcionará Far Cry 5. Precisas chegar ao cabecilha da área e para isso terás de completar missões, missões secundárias ou actividades opcionais dentro do seu espaço para chegar até ele. Isto mantém-se no próximo Far Cry, mas a Ubisoft Montreal partilha da mesma metodologia usada em Assassin’s Creed Origins, removendo as “checklists” de Wildlands e trocando-as pelo incentivo à exploração do misterioso que tanto beneficiou Origins. No teu mapa não terás nada assinalado a não ser que passes pelo local e o descubras, o que encaixa bem na misteriosa e diversificada Montana. É provavelmente a maior diferença para os anteriores e uma amostra que Far Cry 5 já bebe da nova fonte que a Ubisoft preparou para os seus mundos abertos. Afinal de contas, resultou tão bem em Zelda: Breath of the Wild: explorar sem destino. Esta foi a maior diferença que senti, o incentivo a explorar para descobrir situações ocasionais onde podes libertar reféns ou entrar em locais escondidos. Mais uma vez, Far Cry 5 deixa a sensação que se trata sobre liberdade e em entregar aos jogador o controle sobre como quer passar o seu tempo nesta local selvagem.

Far Cry 5 parece pronto para se assumir como mais um jogo competente da Ubisoft, dedicado a todos os que adoram mundos abertos onde possam despoletar o caos. Quem sabe se um dia não é revelado um modo Battle Royale da moda? É um jogo focado em permitir que um mundo de grande escala surja à tua frente, mas que se enquadra com o já esperado. Foi essa sensação de sentir a falta de algo capaz de realmente causar impacto que mais me marcou ao jogar Far Cry 5. É apenas uma amostra do jogo todo, sem muito da narrativa para ver, mas nos dias de hoje é preciso mais do que ser competente. Esta versão do jogo ainda apresentava alguns bugs ocasionais, nada de grave e será abordado nestes próximos meses, mas algo que senti mesmo precisar de melhorias é o modo cooperativo. Apenas tive acesso a duas missões (a solo ou cooperativo são as mesmas), mas foi o suficiente para perceber que o actual sistema precisa de melhorias.

Quando o segundo jogador passa largos minutos sem fazer nada (a bordo de um avião) não se está a divertir e isso significa que não vale a pena. A segunda missão já mostrou mais do que Far Cry 5 terá para oferecer em modo cooperativo mas, mais uma vez, estamos perante uma experiência que relembra imenso Ghost Recon Wildlands, menos táctica e menos exigente, mas dentro dos mesmos moldes. Poderás jogar todo o jogo ao lado de outra pessoa e combinar como realizar a missão. De repente, o recreio virtual selvagem que é Hope County tornou-se muito mais divertido e ficou a clara sensação que te divertirás muito mais em cooperativo.

Jogar Far Cry 5 fez-me lembrar num jogo que pega no básico que é considerado essencial para ser um jogo da série Far Cry e implementa algumas das filosofias que vimos em Assassin’s Creed: Origins para que possa evitar os erros que vimos em Ghost Recon Wildlands. É um jogo perfeitamente inserido nos moldes da Ubisoft, mas a editora parece ter sido rápida em incorporar o feedback dos fãs aos jogos de 2017 para melhorar a sua fórmula em jogos de mundo aberto. O tempo com o jogo foi escasso e ficaram preocupações para uma experiência com pouco de novo e muitas arestas para limar. Espero que estes três meses permitam à equipa ajustar e afinar Far Cry 5 para que se torne no jogo ambicioso que deseja ser.