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Digital Foundry: Análise à Tecnologia – Gran Turismo Sport vs Forza Motorsport 7

Forza Motorsport e Gran Turismo: duas incríveis séries que puxam os limites das suas plataformas. Como simuladores de condução para consolas, partilham muito em comum – ambos entregam visuais de topo, um nível incrível de fidelidade e ambos têm os 60fps como objectivo. Ambos apresentam muitas pistas e carros em comum, permitindo a comparação e análise das suas tecnologias. Mas apesar de Forza Motorsport 7 e Gran Turismo Sport partilharem muitos objectivos, os resultados finais são diferentes, revelando uma profunda diferença na execução e filosofia.

Devido ao extenso ciclo de desenvolvimento de GT (Sport é o primeiro jogo da Polyphony Digital nesta geração, a Turn 10 vai no terceiro) é raro ver jogos Forza e GT a chegarem ao mesmo tempo, tornando mais intensa a chegada da Xbox One X e da PlayStation 4 Pro. Geralmente, não comparamos exclusivos de plataformas, mas quanto mais olhamos para estes jogos de corrida de topo, mais interessante se torna a história. Sim, é fascinante ver as diferentes formas que dois estúdios talentosos usaram em dois dois excepcionais, mas ao mesmo tempo, é fantástico apreciar a arte e saber colocado em cada um deles.

Olhamos para GT Sport a correr na PS4 Pro em modo de alta resolução, 1800p via checkerboard, enquanto Forza 7 corre no PC com tudo no máximo a uma resolução nativa de 4K. Além de anti-aliasing superior e das sombras melhoradas, está igual ao que terás na Xbox One X.

Primeiro temos de falar num ponto crucial – onde cada equipa colocou o seu foco. Forza 7 oferece um grande conjunto de pistas e configurações, muitas variações de clima. Os ambientes apresentam muito detalhe e texturas numa resolução super alta, criadas através de fotogrametria. Também apresenta um grande número de carros com muito detalhe, muito superior ao rival. GT Sport apresenta um número limitado de carros e pistas, mas apresenta-os de uma forma quase foto-realista. A Turn 10 apresenta alta qualidade e quantidade, enquanto a Polyphony Digital focou-se num número menor, permitindo um nível de detalhe mais rico.

Gran Turismo Sport e Forza Motorsport 7 debaixo da lupa do Digital Foundry.

A diferença nos conteúdos pode ser vasta. Forza 7 oferece 700 carros, enquanto GT Sport apenas apresenta 162. Além dos números, a diferença está mesmo nos detalhes. Começamos a comparação ao olhar para o Mazda MX-5 clássico descapotável em cada. Este carro permite-nos usar o modo fotografia de cada jogo para avaliar a qualidade dos seus modelos, dentro e fora do veículo. A qualidade é inacreditável nos dois jogos, apresentando um nível de detalhe fenomenal que é praticamente impossível de perceber durante o gameplay.

E apesar de Forza 7 ir muito além do que é necessário, GT Sport leva as coisas a um novo nível. Níveis superiores de poligonos em detalhe incidental – até mesmo nas ventoinhas do interior – revelam que os modelos da PD estão melhores. As propriedades dos materiais e iluminação por físicas também estão num patamar superior. É interessante comparar os dois carros com pinturas idênticas – Forza 7 está fenomenal, mas um pouco artificial, enquanto o MX-5 de GT Sport está mais natural. Quanto mais comparas os dois jogos, maior é o impacto da iluminação – claramente um dos grandes focos da Polyphony.

Depois comparamos o Porsche GT2 RS de Forza com o GT3 RS de Gran Turismo – o equivalente mais aproximado. Ambos são lindos e apresentam um modelo excelente. Os interiores estão mais aproximados, talvez porque os apenas podemos ver através do vidro repleto de reflexos. Provavelmente a PD construiu este carro com as mesmas especificações do MX-5, a diferença é que desta vez não podemos ver a atenção ao detalhe no modelo de GT Sport. Os materiais e iluminação a Polyphony Digital brilham na mesma, mas a diferença na fidelidade do modelo é mais estreita aqui.

Isto leva a uma fascinante questão: os padrões extremos da Polyphony levam os seus modelos para um nível de escrutínio inacreditável de uma forma que os modelos de Forza 7 não conseguem igualar. Mas ao mesmo tempo, a Turn 10 entrega mais carros, num jogo com muito mais conteúdo. É perfeitamente legítimo perguntar qual é a melhor abordagem para o jogador: a jornada por precisão absoluta da Polyphony Digital deve ser a razão para ter muito menos conteúdos do que Forza 7. Mas ao mesmo tempo, temos de respeitar o estúdio por levar os visuais tão além e este foco tem mais impacto dentro do jogo.

Forza Motorsport 7 comparado na Xbox One, Xbox One X e PC maximizado.

Passando para as pistas e ambientes, a mesma filosofia diferente permanece. Forza 7 apresenta todo o tipo de pistas com campos verdes e paredes de pneus em contraste com ambientes impressionantes em Praga e na Suiça, muitos deles com clima variado. O jogo apresenta muitas pistas, e no PC ou Xbox One X, correm com texturas ultra-high, tirando proveito da memória extra que a PS4 Pro simplesmente não tem. GT Sport apresenta menos pistas (incluindo rally, ausente de Forza) mas, mais uma vez, existe a forte sensação que tem vantagem no detalhe – sem falar na iluminação.

Tendo em conta a janela pequena de 16.7ms para renderizar cada fotograma nos dois jogos, é espantoso o detalhe que ambas as equipas conseguiram apresentar, mas existem claras diferenças na estratégia e implementação. Forza 7 apresenta uma imagem geral mais estável, mas Gran Turismo Sport é mais ambicioso. O esforço adicional pode recompensar mas ao mesmo momento, pode revelar com maior facilidade as fraquezas na apresentação.

Curiosamente, Forza 7 parece mais rápido em movimento do que GT Sport, mas isto deve-se a uma distância focal ligeiramente diferente e ao uso de um subtil efeito de motion blur, que aumentam a sensação de velocidade no jogo da Turn 10. Ao conduzir, os dois jogos parecem quase idênticos numa pista como Nurburgring, algo esperado em dois jogos que procuram o realismo. Para além disso, as diferenças são fascinantes. Primeiro temos as texturas. Ambos oferecem arte com alto detalhe, mas Forza 7 tem vantagem em termos de resolução de texturas. Ao conduzir, isto é difícil de ver, mas destaca-se quando olhas mais de perto. Comparar pistas como Brands Hatch pode, à primeira vista, parecer que estão muito similares, apenas com ligeiras variações na posição de objectos. O nível geral de detalhe? Muito aproximado.

Vários sistemas mostram uma diferença maior – as multidões, por exemplo. Ao perto, Forza 7 recorre a texturas 2D, na sua maioria achatadas, espalhadas pelas bancadas, com uma pessoa poligonal aqui e ali a abanar uma bandeira. GT Sport apresenta uma combinação de personagens 3D poligonais simples, misturados com alguns elementos 2D. Os personagens bitmap em Forza 7 movem-se ligeiramente para dar a impressão de movimento, enquanto as multidões 3D de GT Sport têm mais animações e criam sombras.

Depois temos as árvores – algo que os dois jogos abordam de forma diferente. Em Forza 7, as árvores consistem geralmente em dois planos achatados ou “cartazes”, fixos no chão. Ao conduzir, isto significa que as árvores não se movem e estão sempre viradas para o jogador. Estes cartazes não têm qualquer interacção realista com a luz e não criam sombras, mas até podem distrair menos durante a corrida.

A abordagem da Polyphony é mais ambiciosa. Usam painéis achatados que estão sempre na direcção do jogador, mas estes estão acompanhados por troncos e ramos mais complexos, em muitos casos, com vários cartazes que rodam com a câmara. Estas árvores aceitam luz e sombra, significando que se encaixam de forma mais realista nos cenários. O problema aqui é que durante algumas corridas, a posição das sombras podem criar estranhas arestas à distância, além de pequeno pop-up. Tecnicamente, é a abordagem mais avançada, mas tem os seus compromissos.

Depois temos a iluminação. Ambos usam iluminação pré-concebida, mas os dados usados por GT Sport na iluminação global permitem cenas mais naturais e realistas do que qualquer outro jogo de corridas no mercado. A iluminação de baixo contraste é especialmente difícil de acertar, mas a Polyphony Digital conseguiu. Parece que temos uma solução ao nível da de Assassin’s Creed Unity – outro jogo de destaque em termos de iluminação global pré-preparada.

Isto pode explicar o porquê de GT Sport apresentar a possibilidade de escolher diferentes horas do dia, mas sem mudanças dinâmicas a meio das corridas – cada opção para a hora do dia usa dados de iluminação global diferentes. É uma solução impressionante, que fica especialmente espectacular em HDR, mas isso não significa que Forza 7 não consiga impressionar. Apesar uma aparência diferente mas bonita para a sua iluminação. Algumas pistas, como Praga, estão absolutamente lindas e altamente realistas, enquanto as montanhas da Suiça apresenta uma iluminação muito subtil que parece perfeita, sugerindo que muita da diferença entre os dois jogos está na direcção e não na tecnologia.

Um elemento que se torna aparente ao comparar os dois é a diferença na implementação das sombras. A Turn 10 continua a usar sombras pré-concebidas. Todos os objectos estáticos usam sombras fixas enquanto os objectos dinâmicos, como os carros, usam sombras em tempo real. GT Sport opta por uma solução mais ambiciosa, todas as sombras são geradas em tempo real.

Ambas as implementações são válidas e oferecem diferentes forças ou fraquezas. O benefício de usar sombras pré-concebidas é claro – são mais baratas de renderizar e a qualidade em si pode ser maior, sem artefactos. Sombras estáticas pré-concebidas podem dar na mesma a impressão de objectos dinâmicos, mas devido à forma como as sombras dinâmicas são implementadas em cada objecto – podem espalhar uma sombra e aproximações de alcance das sombras.

As sombras em GT Sport apresentam menos artefactos – quanto mais distante estás, menor precisão terá o efeito e terá mais tendência para se separar. Por outro lado, Forza 7 armazena os dados das sombras de várias pistas, o que provavelmente aumenta imenso o tamanho do jogo. GT Sport apresenta muitas horas do dia diferentes para escolheres, mas cada hora do dia apresenta sombras ajustadas segundo a posição do sol em tempo real, enquanto as sombras de Forza 7 estão limitadas pelo processo pré-concebido.

Basicamente, a solução de Forza 7 provavelmente exige mais espaço de armazenamento, limitando a potencial posição do sol e não se aplica de forma igual a todos os objectos. Pelo outro lado, GT Sport exibe mais artefacto e separação, mas as sombras podem ser modificadas de acordo com a posição do sol, sem precisar de armazenar dados de sombras pré-concebidos. As mudanças na hora do dia são interessantes de discutir: Forza 7 oferece um ciclo limitado enquanto GT Sport te restringe a uma hora escolhida antes da corrida. A abordagem pré-calculada da Turn 10 permite transições na hora do dia enquanto o sistema em tempo real de GT Sport não, o que é curioso – ainda mais estranho pois GT6 na PS3 tinha isto.

Em termos de iluminação, ambos estão bons mas sentimos que GT Sport está melhor graças a uma implementação mais realista e com mais estilo – algo que persiste em todas as pistas. Não temos a certeza se isto se deve a um aspecto técnico do motor ou a uma abordagem diferente no estilo de arte. Em termos das cinematográficas, parece que a PD contratou o melhor director de fotografia da indústria, que tornou a estética o mais bonita possível.

A Turn 10 e a Polyphony Digital adicionar os seus próprios adornos. Em Forza, existem mais objectos dinâmicos espalhados pelas pistas desenhados para melhorar a tua experiência, incluindo paredes de pneus que reagem de forma convincente num embate. Os acidentes têm um impacto mais visível em Forza, algo que nunca foi um foco para a PD. Pelo outro lado, GT Sport apresenta partículas muito bem iluminadas ao correr à noite. Ao conduzir pela terra, trava e os faróis surgem nas partículas – algo ausente em Forza 7. Em ambos, os faróis criam sombras em tempo real ao correr à noite. Forza 7 também inclui feixes de luz screen-space em certas pistas, melhorando a iluminação ao conduzir em direcção ao sol.

Depois temos os reflexos – ambos empregam técnicas muito diferentes. Em Forza, o jogo usa os dados de uma imagem de um anterior fotograma para gerar reflexos dos carros, é por isso que vês a linha de condução reflectida no carro. Na Xbox One e Xbox One X, estes reflexos correm a 30fps.

Em GT Sport, as coisas estão mais complicadas. O jogo usa um mapa cúbico estático para o mundo – algo mais exigente – mas a resolução dos reflexos é reduzida. O estranho é que parece existir variações no rácio de actualização. Em muitos momentos, os reflexos parecem actualizar a 60Hz, mas noutros, actualiza a 20fps. Ocorre especialmente na perspectiva cockpit. Ambas as soluções funcionam bem mas cada um tem os seus compromissos – as sombras do teu carro na perspectiva exterior são usadas em todos os veículos, independente do seu aspecto, causando estranhas anomalias.

A implementação da HDR em GT Sport não tem rival, ao ponto de criarmos um vídeo apenas sobre isso.

Também temos de falar na diferença na resolução. Apesar de usarmos o PC especialmente para testes, a Xbox One X oferece a mesma experiência e corre a 4K nativa. GT Sport corre a 1800p via checkerboard. A qualidade de imagem é boa, mas Forza 7 tem uma grande vantagem em termos de qualidade de imagem… pelo menos durante o gameplay. Um aspecto do qual não nos cansamos em GT Sport são os replays.

GT Sport apresenta os melhores ângulos e efeitos nos replays em qualquer jogo de corridas jamais feito. O trabalho da câmara, a qualidade do motion blur e o campo de profundidade combinam de forma impressionante. São de topo. Forza 7 está impressionante mas os ângulos escolhidos e o motion bluir de menor qualidade não se comparam. É verdade que no pacote geral, as repetições não são o mais importante mas é bom ter e partilhar quando tens uma corrida muito boa. A PS4 Pro consegue-os correr a 1080p60, o que leva a apresentação para outro nível.

Quer gostes de GT ou Forza, ambos são espantosos e representam equipas de topo no seu melhor, entregando visuais lindos e rácios de fotogramas altos nas consolas (a versão PC de Forza é a cereja no topo do bolo). Cada um tem as suas vantagens na qualidade visual, mas ambos são espectaculares. A nossa análise mostra filosofias diferentes: a Turn 10 cumpre sem falhar a cada dois anos, melhorando e adicionando novidades. Tudo feito para assegurar os 60fps sólidos.

A performance de GT Sport está muito boa no código final, certamente o resultado de um forte esforço de optimização, sendo a experiência mais suave desde a geração PS2. No caso de Forza, desde o início que a Turn 10 conseguiu 60fps e assim se mantém ao longo do desenvolvimento.

A sensação é que a Polyphony passou 4 anos a construir um jogo totalmente novo com uma postura ‘será lançado quando estiver pronto’. Existe uma dedicação ao detalhe e materiais que é especial, mas poderá parecer exagerado em alguns casos, tendo em conta a experiência de jogo em si. Mas em outro aspectos é crucial – como na sublime iluminação. Torna-o mais bonito e dá-lhe mais alma.

A abordagem e filosofia podem ser diferentes, e a implementação das principais funcionalidades reflecte as diferentes prioridades no desenvolvimento – mas a rivalidade é real, a concorrência leva à excelência. Este confronto demonstra que ambas entregaram jogos excelentes. O próximo confronto será ainda mais fascinante.